sexta-feira, 30 de maio de 2008

PACIENTES E ONG AMIGOS DA VIDA LUTAM CONTRA A AIDS EM FRIBURGO

Em Nova Friburgo, somente este ano, foram registrados 18 casos de HIV, sendo seis destes em gestantes. Os dados são da Saúde Coletiva, coordenada pela médica Tereza Pólo. Segundo estatísticas, no mundo são detectados 16 mil novos casos de AIDS por ano, sendo 50% das ocorrências em jovens de 13 a 24 anos. No Policentro de Friburgo, são acompanhados 261 portadores da doença, número que exclui os pacientes que se tratam através de convênios particulares.

Ana Carolina, presidente da ONG Amigos da Vida, que cuida dos pacientes portadores do vírus, explica o aumento da incidência do vírus em jovens. Segundo ela, as pessoas menos experientes não acreditam que pode acontecer com eles, acham que a AIDS nunca os atingirá. E é esta a razão para não darem preferência ao sexo seguro. Tereza Pólo ratifica a opinião de Ana Carolina e diz que as principais justificativas dos que já foram “tocados pela AIDS” é a de que confiavam no parceiro ou então a desculpa de que “foi só uma vez”.

Em sua ONG, Ana Carolina tem 130 pacientes cadastrados, incluindo 10 crianças. A Amigos da Vida, que é fruto da pastoral da saúde, aliada à Igreja Católica, está em atividade desde 1996 e conta exclusivamente com doações de empresas da cidade, que fornecem cestas básicas, passes para transporte coletivo e óculos para os pacientes. A ONG conta apenas com seis voluntários, que nada recebem, além da parceria com a farmácia comunitária, que doa remédios para as doenças oportunistas que atingem os portadores do HIV.

O trabalho dos Amigos da Vida vai desde a visita a casas e hospitais a campanhas em escolas e indústrias. Apesar do vínculo com a Igreja Católica, a ONG não descarta o uso de preservativos, mas prega que a fidelidade ainda é o melhor caminho. Lá, os pacientes contam ainda com o apoio psicológico, vindo de profissionais que realizam consultas gratuitas. Para receber os benefícios (como a cesta básica e até mesmo o remédio) os pacientes têm que assistir à palestra mensal.
A presidente da ONG explica que uma das dificuldades é conseguir a adesão total do paciente ao tratamento, que é feito por uma série de remédios – o chamado coquetel. O coquetel é preparado de acordo com o tipo de vírus de cada paciente. Ela explica que os efeitos colaterais dos medicamentos são severos. Os pacientes sofrem com enjôo, vômitos e diarréias intensas, que podem durar, às vezes, um mês.

Desrespeito e descaso do poder público

Outra dificuldade enfrentada é o preconceito. Ana Carolina conta que, por cuidar de portadores da doença, já foi discriminada. Diz que uma vez, ao entrar no elevador, todos saíram e a deixaram sozinha. L. Souza, dona de casa, 43 anos, soropositivo há quase quatro, diz que a contaminação aconteceu dentro de seu casamento. Seu esposo já era portador do vírus e, como muitos, desconhecia o fato. Segundo ela, “a ficha demorou a cair, não conseguia sequer me olhar no espelho”.

A paciente faz críticas ferrenhas ao sistema de saúde público da cidade. Diz que não dorme há uma semana, devido aos efeitos colaterais dos remédios. Ao procurar o hospital Raul Sertã, com febre muito alta, não havia médico especializado de plantão. Ela foi recebida por um clínico geral que, segundo seu depoimento, nem a olhou e disse que estava tudo bem. L. de Souza tem os braços inchados e vermelhidões por todos os membros, diz sentir muita dor nos braços, como se estivessem queimados. Há quase duas semanas espera por atendimento qualificado e diz que “não há tratamento adequado no hospital público para os pacientes de AIDS”.

A doença

A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é causada pelo vírus HIV, que age no interior das células do sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo. É uma doença sexualmente transmissível. O sexo, sem o uso de preservativos, e a compartilhação de seringas são os principais responsáveis pelas infecções. No entanto, ter o vírus HIV não significa ter AIDS, é o sinal de que foram detectados anticorpos contra o vírus. O tempo para o vírus se manifestar no organismo humano é relativo e irá depender das condições de saúde do indivíduo. Há muitas pessoas que são soropositivos e vivem anos sem desenvolver a doença. Mas isto não significa que o vírus não será transmitido.

Logo que os primeiros casos de AIDS foram identificados, se sabia muito pouco sobre a doença e o tratamento não era tão eficaz quanto o de hoje. Receber a notícia da contaminação do HIV era quase uma sentença de morte. Mas, graças aos avanços das pesquisas e da Medicina, hoje é possível ter uma sobrevida de até 20 anos, isto é, desde que se faça corretamente o tratamento. Outro avanço da Medicina está na possibilidade de proteção do bebê contra o vírus que a mãe porta, através do anti-retroviral, que é utilizado durante a gravidez e pelo recém nascido até seis meses de vida.

Por: Liana Borges

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