sábado, 5 de abril de 2008

AMÉRICA VENCE FRIBURGUENSE, MAS É REBAIXADO

Tia Ruth, torcedora símbolo do América, recitava os versos de Lamartine Babo no início da partida: “Hei de torcer, torcer, torcer... hei de torcer até morrer, morrer, morrer”. Pois o América, como suscita o hino, não morreu, mas foi arremessado a um abismo do qual vai demorar para escalar o caminho de volta. Rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Carioca, o ‘diabo’ vive um inferno astral. O jogo de hoje, disputado em Friburgo, teve gritos de luta e um silêncio estrondoso. Nem a vitória por 2 a 0 sobre o time da casa salvou o ‘Mequinha’. O vermelho virou luto e a história centenária congelou no tempo.

Medo e angústia

A numerosa torcida do América que compareceu ao estádio Eduardo Guinle esperava um milagre. O time precisava vencer e torcer por dois tropeços de adversários. O Friburguense entrou em campo com a missão de se classificar à série C do Brasileirão deste ano. Muito exaltados, os torcedores do tricolor serrano levaram caixões simbolizando o enterro do América e passaram boa parte do jogo provocando os ‘diabos vermelhos’, com gritos de ‘Segunda Divisão’.

O clima tenso nas arquibancadas se espalhou pelo gramado e alcançou os jogadores. As equipes demoravam a se acertar. O único destaque da partida era o árbitro Edílson Soares da Silva, que parecia ter vindo a Friburgo com o objetivo de ser o salvador da pátria americana. Ele invertia faltas, inventava outras; sempre contra o time serrano. Aos 10 minutos do primeiro tempo, numa das infrações inexistentes assinalada pelo juiz, o meio-campista Élton, do América, bateu no canto esquerdo de Adriano. A bola raspou a trave.

Impulsionados pelos gritos de Tia Ruth, que ficou em pé durante toda a partida e não parou um minuto sequer de incentivar os jogadores, o América buscava o ataque a qualquer preço. Desordenado, o time não conseguia furar o bloqueio tricolor. Aos 30, um gandula do Frisão, acusado de retardar a reposição de bola, foi expulso pelo árbitro e massacrado por vaias e xingamentos dos torcedores do ‘sangue’.

Quando tudo parecia se encaminhar para um final enfadonho, Élton, melhor jogador em campo, mandou um balaço de perna direita, do meio de campo, e quase surpreendeu o goleiro Adriano. A torcida americana chegou a gritar gol, mas na hora H o arqueiro do Friburguense jogou para escanteio. Na saída para os vestiários, torcedores da área de sócios do time serrano jogaram garrafas no trio de arbitragem e acabaram acertando um tenente da Polícia Militar. O tempo fechou e a PM teve que subir às arquibancadas para conter os ânimos exaltados.


Bruno Carvalho comemora o segundo gol americano

Gols e tristeza

A angústia americana de repente explodiu em gol quando Magno, atacante do América, foi derrubado fora da área e o árbitro deu pênalti. Fernandão, aos 7 do segundo tempo, colocou no canto direito e desafogou a alma da massa vermelha. Á essa altura, o Mesquita estava sendo derrotado pelo Duque de Caxias, na baixada Fluminense, o que significava a salvação para o Mequinha.

Inspirados pelo gol, os jogadores do ‘diabo’ continuaram pressionando o Friburguense, que parecia sonolento e desinteressado. Talvez a revolta contra a arbitragem tenha anestesiado os tricolores. Aos 30 minutos, porém, Gilson invadiu a área e foi derrubado por trás. O juiz, bem colocado, fez que não viu o pênalti e mandou a partida seguir. 3 minutos depois, Bruno Carvalho ampliou para o América. Ele recebeu dentro da área, driblou o zagueiro e chutou cruzado para as redes.

O milagre parecia ser real. Mas, lá na baixada, o Duque de Caxias sofreu a virada. Foi um balde de água fria na alegria americana. Nesse momento, o esforço era em vão. Como que num passe de mágica, surgiu a notícia de que o Duque de Caxias empatara. Festa do ‘sangue’. Torcedores se abraçavam e sorriam. Veio então a confirmação fatídica. Quem havia feito o gol era o Mesquita. Fim da ilusão. A realidade do rebaixamento trazia à tona a lágrima reprimida.


Torcedora chora o rebaixamento do América

Torcedores revoltados

Na saída do estádio, uns choravam, outros gritavam revoltados. A mãe de Patrícia, que não conseguiu dizer o próprio nome, pois se debulhava em lágrimas, prometeu continuar fiel ao América: “Há 50 anos torço com todo o meu coração. Continuarei amando o meu time”, declarou, em prantos, consolada pela filha. Tia Ruth estava séria e pedia calma. “Agora é preciso apoiar a equipe mais do que nunca. Não podemos abandonar nossos meninos. Vamos continuar a luta”, falava a senhora de 75 anos, aos ouvintes atentos, que tentavam consolá-la, mas acabaram sendo consolados por ela.

Nas palavras de Alfredo Soares, torcedor do Fluminense, que viajou a Friburgo em solidariedade ao América, a memória americana deve ser restaurada. “Não é possível que um time que já teve os melhores jogadores do país e levantou diversos títulos fique de fora da elite do futebol. O brasileiro tem que entender que a história é mais importante do que as circunstâncias”, filosofou o aposentado, de 76 anos, que seguiu de volta ao Rio com a esperança de ver o América voltar a ser o ‘campeão de 13, 16 e 22’.

Fotos: Gerson Gonçalo

Reportagem: Gabriel Calixto

2 comentários:

Unknown disse...

Bem, alguém teria que ser rebaixado mesmo...

Paulo disse...

O pior do jogo foi a atuação do juiz.O cara roubou tanto do Friburguense para favorecer ao América que deu nos nervos dos jogadores e houve aquele tumulto.